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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

POLÍTICA NA TERÇA 2

Este blog é dedicado à filosofia séria, ou seja, àquela acadêmica, dos outros. Neste semestre atravessado, de novembro a abril, traremos aqui algumas conversas de sala de aula, em duas disciplinas optativas: Filosofia Política e Hermenêutica. Na terça e na quinta-feira, de manhã, turmas pequenas.

Meu outro blog traz, na mistura, alguma "filosofia ligeira" de nossa lavra
(conforme classificação de T. W. Adorno, para obras musicais na era do rádio)

Onde queremos chegar? O semestre poderá ser considerado proveitoso, se conseguirmos atravessar a dissertação de Joedson Santana, em que contrapõe Habermas a Pettit. Tema central: republica(nismo).

Mais ou menos pelo mesmo motivo que impediu Kant de citar Hegel, Habermas não citou Pettit (hasta ahorita, ou seja, ainda, em textos publicados que pudemos examinar, etc).

Por seu lado, o atualíssimo Pettit prestigiou Habermas na coletânea que organizaou junto com Goodin. O subtema "esfera pública" coube a Habermas.

Confiram, se quiserem, os demais temas e subtemas de uma coletânea recente (2008) de Filosofia Política Contemporânea.

Sumário traduzido de Contemporary political philosophy: an anthology,
uma coletânea organizada por GOODIN e PETTIT

 Um catatau de 754 páginas, da Editora Blackwell, 2008.





Parte I Estado e sociedade


1. O Estado (Quentin Skinner)


2. Simplificação do estado (James C. Scott)


3. O contrato social como ideologia (David Gauthier)


4. O contrato social fraterno (Carole Pateman)


5. Invocando a sociedade civil (Charles Taylor)




Parte II Democracia


6. A esfera pública (Jürgen Habermas)


7. Democracia procedimental (Robert A. Dahl)


8. Preferências e políticas (Cass R. Sunstein)


9. O mercado e o fórum: três variedades de teoria política (Jon Elster)


10. Deliberação e legitimidade democrática (Joshua Cohen)


11. Lidando com a diferença: uma política de ideias ou uma política de presença (Anne Phillips)




Parte III Justiça


12. Justiça como lisura [fairness] John Rawls


13. Justiça distributiva (Robert Nozick)


14. Oportunidade, escolha e justiça (Brian Barry)


15. A república procedimental e o self desimpedido (Michael J. Sandel)


16. A organização política (polity) e a diferença entre grupos: uma crítica ao ideal de cidadania universal (Iris M. Young)


17. Superando injustiça histórica (Jeremy Waldron)




Parte IV DIREITOS


18. Existe algum direito natural? (H. L. A. Hart)


19. Levando os direitos a sério (Ronald Dworkin)


20. Direitos básicos (Henry Shue)


21. Uma defesa do aborto (Judith J. Thomson)


22. Justiça e direitos das minorias (Will Kymilicka)


23. Direitos humanos como uma preocupação comum (Charles Beitz)




Parte V Liberdade




24. Dois conceitos de liberdade (Isaiah Berlin)


25. O que há de errado com a liberdade negativa? (Charles Taylor)


26. Um terceiro conceito de liberdade (Quentin Skinner)


27. Liberdade e igualdade são compatíveis? (G. A. Cohen)


28. Pluralismo liberal e democracia constitucional: o caso de liberdade de consciência (William A. Galston)


29. Os sem teto e a questão da liberdade (Jeremy Waldron)




Parte VI Igualdade


30. A idéia de igualdade (Bernard Williams)


31. Igualdade e prioridade (Derek Parfit)


32. Igualdade em quê? (Amartya Sen)


33. Igualdade complexa (Michael Walzer)


34. Justiça engendrada (Martha Minow)


35. Igualitarismo e o pobre imerecido (Richard Arneson)




Parte VII Opressão




36. Poder, direito, verdade (Michel Foucault)


37. Racismo, sexismo e tratamento preferencial: uma abordagem dos tópicos (Richard A. Wasserstrom)


38. “Amantes de seu próprio destino”: Dirietos de grupo, gênero e direitos realistas de saída (Susan M. Okin)


39. “Dependência” desmistificada: inscrições de poder numa rubrica do Estado de bem-estar social (Nancy Fraser e Linda Gordon)


40. Agüentando as conseqüências da crença (Peter Jones)




Parte VIII Relações internacionais




41. Guerra justa: o caso da segunda guerra mundial (G. E. M. Anscombe)


42. Auto-determinação nacional (Avishai Margalit e Joseph Raz)


43. A lei dos povos (John Rawls)


44. O romance do Estado-nação (David Luban)


45. Democracia: de estados-cidades a uma ordem cosmopolita? (David Held)


46. Governança global e lealdade democrática (Robert O. Keohane)


47. Migração e pobreza (Thomas Pogge)


48. Humanidade e justiça em perspectiva global (Brian Barry)


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AUTORES presentes na antologia de GOODIN & PETTIT,


que foram citados por HABERMAS em Direito e democraria e/ou em A inclusão do outro [ed. Originais: 1992 e 1997, respectivamente).

Essa listagem pode mostrar que Habermas citou quase a metade dos colaboradores de Goodin/Pettit, em suas duas obras mais importantes. E vejam que as pesquisas de Habermas cobrem a literatura de quase duas décadas antes. Os que foram citados estão marcado com DD e IO, entre parênteses (para Direito e democracia e A inclusão do outro, respectivamente).
 
A seguir, os autores presentes na antologia:

Anscombe, G. E. M.


Arneson, Richard

Barry, Brian

Beitz, Charles

Berlin, Isaiah

Cohen, Joshua (DD)

Dahl, Robert A. (DD, IO)

Dworkin, Ronald (DD, IO)

Elster, Jon (DD, IO)

Foucault, Michel (DD, IO)

Fraser, Nancy (DD, IO)

Galston, William A.

Gauthier, David

Gordon, Linda

Hart, H. L. A.(DD, IO)

Held, David (DD)

Jones, Peter

Keohane, Robert O.

Kymilicka, Will (IO)

Luban, David

Margalit, Avishai

Minow, Martha(DD, IO)

Nozick, Robert

Okin, Susan M.

Parfit, Derek

Pateman, Carole (DD)

Phillips, Anne

Pogge, Thomas

Rawls, John (DD, IO)

Raz, Joseph (IO)

Sandel, Michael J.

Scott, James C.

Sen, Amartya (DD,IO)

Shue, Henry(DD)

Skinner, Quentin

Sunstein, Cass R. (DD)

Taylor, Charles (DD, IO)

Thomson, Judith J.

Waldron, Jeremy (IO)

Walzer, Michael (DD, IO)

Wasserstrom, Richard A.

Williams, Bernard (IO)

Young, Iris M. (IO)



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CREPÚSCULO


Anselm Kiefer, "O crepúsculo do Ocidente"

(400 cm x 380 cm  x 12 cm, técnica mista, vários materiais, inclusive cinza e terra)

Repetimos aqui a imagem da capa da Antologia da Blackwell, conforme créditos na obra e na internet. Kiefer é um importante e raro artista alemão contemporâneo. O tema da bifurcação dos trilhos, com o sol poente, é muito adequado a esse volume organizado por Goodin e Pettit e lembra obra de Horkheimer, Ocaso (Dämerung) - from those dark times, diria Hannah Arendt. Depois faremos comentários sobre como é póssível aprender muito sobre política e capitalismo tardio (globalizado), antes mesmo de chegarmos ao miolo do grande livro, já nas orelhas. Aguardem. Ainda: a obra de Kieffer está na National Gallery, de Canberra, Austrália, país em que Pettit trabalhava.

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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

HERMÊ NA QUINTA 2

DOIS JORGES:

O PROLIXO ALEMÃO e O miniCONTISTA





Na aula anterior, a segunda de dezoito, uma aluna estranhou quando ouviu que o autor alemão Gadamer escreveu um livro extenso e de leitura agradável. Agora trago para a 3ª aula dois catataus: o referido livro Verdade y método mais o raro livro de filosofia brasileira, Ciência e existência. Este, escrito por Álvaro Vieira Pinto, tem 537 páginas e foi o resultado de um ano de curso oferecido no Chile, em 1967, antes do golpe militar. Gadamer já tinha uns sessenta de idade quando lançou em 1960 seu influente livro, cujo subtítulo é “fundamentos de uma hermenêutica filosófica”. Estamos comparando aqui – assim como ocorreu na sala de aula do cinco-ó – apenas a extensão e o processo construtivo dos dois livros, que são também dois objetos mais ou menos diferentes.

O livro de Gadamer é resultado de longa maturação e diálogo com grande parte da história da filosofia. Os editores prepararam lista de autores citados, de temas e de obras. No caso de Álvaro Vieira, um livro de exceção: não há lista de nomes, nem de temas e nem qualquer bibliografia. Nem uma notinha de rodapé para agradar o professor de MTP. A única ajuda vem nos sumários de cada um dos vinte e dois capítulos, que certamente foram, antes, vinte e duas aulas. Talvez as aulas tenham sido gravadas e transcritas, o que nos ajuda a explicar o caráter prolixo e expositivo, em seqüência que não pode ser quebrada ou invertida; é um curso, um percurso. É preciso entender o que AVP chama de conhecimento (um conceito que inclui a ameba: a ameba conhece), para em seguida acatar sua concepção de pesquisa. E assim por diante, até beirar a revolução. Essa falta de fontes e copyrights apóia-se certamente também em motivos políticos, à época da formação de uma consciência anti-colonialista, etc.

O livro de Gadamer não é um manual, desse naipe. O leitor pode, sem pré-requisitos, selecionar do índice remissivo um tema, como, por exemplo, “aventura” e ler apenas as três páginas, embora seja melhor ler toda a seção “vivência” – que é conceito-chave da hermenêutica, desde Dilthey.

Ora, ainda não foi a hora de levar o terceiro catatau da hermenêutica. E não me refiro ainda à Bíblia Sagrada, mas, antes, ao livro de Paul Ricouer, O conflito das interpretações, com suas 600 e tantas páginas. Trata-se, no caso, de uma coletânea – que inclui, por exemplo, longa resenha de um livro do teólogo Bultmann – e para esse gênero de publicação a noção de prolixidade não se aplica com a mesma simetria.

¿Então, que tal uma guinada para a outra extremidade? Levei para a sala de aula o livro de minicontos do outro Jorge, o Abrantes: Contos instantâneos. Livro atípico e digno de uma curtíssima resenha, em breve, em outro blog. O livro tem quinze páginas de sumário! São uns 300 contos, que ocupam... 120 páginas: cada conto tem duas ou três linhas apenas. Segredo que interessa a nossa mui cara hermenêutica, cujas caldeiras vamos atiçando: também são relevantes, para a compreensão e a curtição de cada miniconto os seguintes elementos textuais e gráficos: o título, o tipo de letra (fantasias pictóricas e gráficas, inclusive), a dedicatória (e o perfil do homenageado) e os eventuais contextos de trilogias e reticências. Ou seja, o sentido vem de um jogo que extrapola os minicontos, sempre montados em diálogos, que nos fazem (pré)supor narrativas e contextos. Enfim, Jorge reclama uma ampla erudição e exibe um cuidadoso trabalho de “redução” – algo parecido com a edição de filmes de trinta segundos. O que é essencial? Qual é o efeito, o eco? Que afetos desperta?

Aí, nessa altura da aula com cuspe e giz, surgiu a conversa sobre os sinônimos e antônimos de “prolixo”. Ao ouvir termos como “conciso” e “sucinto”, foi inevitável encarar os pares análise e síntese, objetivo e “enche-lingüiça”, etc. Deveríamos opor “subjetivo” à noção de “objetivo”? Ora, quem fala do objeto (e não de si mesmo) também pode enrolar e demorar. O sachlich, em alemão, é o “coisal”, o científico (oposto às belas-letras), mas isso não é igual a objektiv.

Mais simples, por entonces, foi lembrar as lições de Folscheid e Wunenburger, no manual que conhecemos bem, Metodologia filosófica: não se deve resumir (ou contrair) obras literárias, nem obras difíceis e densas, como a KRV, Crítica da razão pura, de Kant. Sobra pouco para o exercício de resumir a dez por cento: debates jornalísticos, de opinião – o campo da embromação.

Devemos distinguir, como na anedota sobre o canivete, a propósito do nada, a composição e a subtração. Há fragmentos por acidente, quase tudo que resta dos pré-socráticos. E há escritos deliberadamente truncados, como alguma coisa de Derrida que traduzi e não consegui publicar. E não estamos aqui para ensinar ninguém a escrever desse ou daquele jeito. Vamos, sobretudo, ler e interpretar, adivinhar.

Mas aqui, a partir da questão da aluna, deitamos conversa (repetindo parte da aula) para mostrar que um texto prolixo pode ser agradável e relevante. E os dois exemplos valem: Gadamer e A.V. Pinto.

Já o contra-exemplo, no campo da ficção, reforça teses quase-intuitivas da hermenêutica, quanto ao caráter de sugestão e de mosaico de referências, além da pré-disposição e do contexto. O pouco que sei sobre Jorge Abrantes (que entende de cinema, tem mestrado em filosofia, na UFU, e é dentista) fornece uma boa dose do (bom) preconceito que Gadamer recebe de bom grado em sua hermé(neu)tica. [E isso aqui já uma amostra da homenagem concisa que espero fazer ao autor dos Contos instantâneos. Dica: neu é nova, em alemão...]

 
Não combina com blog publicar aqui um parágrafo de três páginas do livro do A. V. Pinto. E é fácil lerem por aí passagens de Gadamer. Vamos, então encerrar este post, com um miniconto do Jorge Abrantes (sem a fonte original do título) e uma referência. Aí, ficam os alunos e demais leitores liberados para voltar ao facebook. Time is money e vamos perdê-lo.

SEREIAS

Para Homero e Odisseu

-- Há perigo em todo canto.
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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

POLÍTICA NA TERÇA E HERMENÊUTICA NA QUINTA



ANÚNCIO DE DISCIPLINAS

UFU - GRADUAÇÃO FILOSOFIA – 2º semestre/2012 - Matutino
(Início: 27 e 29/11/12)

Prof. Bento Itamar Borges

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NA TERÇA-FEIRA, POLÍTICA ATUAL – NA QUINTA, HERMENÊUTICA GERAL



TERÇA-FEIRA – de manhã

GFI128 - Tópicos Especiais de História da Filosofia Política 8



Filosofia política contemporânea. O neo-republicanismo de Philip Pettit, em contraponto com a Teoria discursiva do direito e da democracia, de Habermas. Constitucionalismo e o novo federalismo. Estado de bem-estar social. Europa e Estado pós-nacional. Política deliberativa e a sobrecarga do Estado (inclusive formação política da vontade). Meio século de “esfera pública”.

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QUINTA-FEIRA – de manhã

GFI152 - Tópicos Especiais de História da Filosofia Contemporânea 7



HERMENÊUTICA PARA FILÓSOFOS - TEMAS E AUTORES INTERESSANTES: De volta a um texto inacabado, de 1992: “Uma hermenêutica universal?”; Exemplos de pesquisa em gêneros (literários) da filosofia: narratividade, biografia, ensaio, etc. (a pergunta por uma “questão fundamental”). Leitura seletiva de Gadamer, em Verdade e método (e comparação de traduções dessa obra ). Volta aos pioneiros (Santo Agostinho, Nicolau Krebs, Hegel, Dilthey). Um exercício de leitura comentada. Uma atualização, em defesa do “desejo de compreender” (e de escrever difícil), na época atual, a da tradução mecânica (análise de e crítica a Pustejovsky ou outra semântica qualquer, operacionalizável, para uso limitado e limitante.)

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Alunos da pós-graduação em filosofia (mestrado) interessados poderão participar como ouvintes nessas duas disciplinas.

Prof. Bento Itamar Borges

Udi, 15 de novembro de 2012




domingo, 28 de outubro de 2012

DIVULGAÇAO DE DOIS LIVROS

Dois livros que recebi como cortesia, recentemente. Dois exemplares de cada: um para mim, gentilmente autografados pelos colegas Jorge e Helder. Os outros vão para a biblioteca da Universidade Federal de Uberândia, como doaçao.

Estive em Teresina, no mês passado, para trabalhar na banca de mestrado que argüiu Joedson - escreveu sobre o novo republicanismo de Philipp Petit (em contraponto com as últimas idéias de Habermas). E me encarreguei de bom grado dessa divulgação, que aqui se inicia. Apresento o início de uma resenha ainda em construção, para o livro do Lubenow - que espero publicar pela nossa revista de Uberlândia, Educação e Filosofia. E sobre a coletânea apenas indico temas, por enquanto.





A CATEGORIA DE ESFERA PÚBLICA EM JÜRGEN HABERMAS:
PARA UMA RECONSTRUÇAO DA AUTOCRÍTICA

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LUBENOW, Jorge A. A categoria de esfera pública em Jürgen Habermas: para uma reconstrução da autocrítica. João Pessoa, Editora Manufatura, 2012. 158 p.



O autor, Jorge Lubenow, trabalha atualmente na Universidade Federal da Paraíba, onde o conheci em 1989, ocasião em que foi realizado lá um evento em homenagem aos 80 anos de Habermas. Estávamos juntos na comissão organizadora, ao lado de outros colegas. Ele é um dos representantes da nova e confiante geração de estudiosos da obra de Habermas e está a perfazer em pouco tempo uma bela carreira acadêmica. Este livro foi sua tese de doutorado, defendida na Unicamp em 2007, após período de pesquisa na Alemanha, sob orientação de dois importantes intelectuais nos dois países.

O livro é dedicado ao próprio Habermas, o que se justifica pela imperdível efeméride: em 2012, ano da publicação do livro aqui resenhado, completa 50 anos a tese de Habermas que foi o objeto de estudo de Lubenow: Mudança estrutural da esfera pública.

É um jovem filósofo brasileiro a retomar, de maneira cuidadosa e segura, a obra seminal daquele alemão, que cuidou de reconstruir a história (e um pouco da sociologia) da formação e da decadência da esfera pública (burguesa). Habermas tinha 32 anos quando defendeu em Marburg uma tese antes recusada em Frankfurt.

Lubenow acerta quando vê naquela tese de 1961 o núcleo insuperável de toda a obra teórica de Habermas; do tema esfera pública não iria se livrar mais. Em grande parte, desenvolveu outros quadros categoriais para sustentar essa ponte bem amarrada, cujo destino e apoio está na margem chamada “Direito e democracia”, conforme traduçao brasileira da obra mais substancial de Habermas, lançada ao aposentar-se. (...segue)

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Endereço para adquirir esse livro:
Gráfica e Editora Manufatura
Rua Adalgisa Luna Meneses
Bancários
João Pessoa PB
fone (83)88270209

 




CARVALHO, Helder Buenos Aires e CARVALHO, Maria C. M. de (orgs) Temas de ética e epistemologia. Teresina, EDUFPI, 2011



Pretendo escrever uma resenha deste livro também, talvez para publicar na revista eletrônica Poros, da Católica de Uberlândia. Não é fácil fazer resenha de coletânea, embora eu já tenha publicado algumas. Por coincidência, resenhei duas coletâneas organizadas por Maria Cecília M. de Carvalho (uma sobre Filosofia analítica no Brasil e outra sobre “novos paradigmas”) e... já realizei com o Prof. Helder Buenos Aires um feito raro na filosofia: um texto escrito em parceria, nós dois, sobre comunidade em McIntyre e em Thomas Kuhn.

O prefácio que apresenta a coletânea e fala da difícil tarefa de fazer filosofia no Brasil – o que se agrava no Piauí – lembra meu discursinho, há um mês, para agradecer o convite para aquela banca de mestrado. Eu disse então que já não precisava mais de pontuação para “progredir na carreira” do magistério superior, logo após bater a cabeça no teto, Professor Associado IV. Então, afirmei eu, por ser verdade e dar fé, que estava ali sob o sol de 41 graus e o mormaço na sombra, estava ali por amor à filosofia – e me desculpo pela redundância, pois na etimologia estrita isso daria “amor ao amor pela sabedoria”. E sabido era o então candidato ao título de mestre, pois Joedson já é professor concursado de um IFET, no interior do Piauí. Ele, nós e tantos outros na militância, por uma cultura filosófica - em lugares diversos e eventualmente adversos, lá e cá.

E eu disse que estava ali, para argüir o candidato e discutir filosofia com os colegas Lubenow e Helder, por amor à causa e por saber que os programas novos precisam se ajudar, também numa configuração transversal que una Uberlândia e Teresina – passando um pouco por cima da Bahia, com suas lavouras de soja a oeste. 

Os temas estão reunidos em duas partes, cada qual com seis artigos. Na primeira, sobre “ética e filosofia política”, temos artigos sobre o liberalismo de Rorty, a moral discursiva em Habermas, o cuidado de si, liberdade e negatividade em Sartre e Merleau-Ponty, estatuto moral e animais não-humanos, a justiça como virtude social em Platão.

A segunda parte, “Epistemologia e Filosofia da Linguagem”, traz contribuições sobre confiabilismo e metaincoerência (!), epistemologia social (pode ela ser aletista?), determinismo em Popper, um programa de investigação em Wittgenstein, Wittgenstein sobre a certeza, a verdade na arte (Gadamer).

Em uma versão mais extensa, que esperamos anunciar em breve, citaremos os autores, que incluem a “prata da casa” e ilustres visitantes e colaboradores. (Nesse caso, estou fora e nem sei, por enquanto, o que seja "aletista"... Já essa "metaincoerência" parece simpática e, quem sabe, contagiosa...Vamos ver.)

Incluo aqui o endereço da Editora da Universidade Federal do Piauí:

EDUFPI

Campus Ministro Petronio Portela

64049 – 550 Teresina PI

Fones (86) 3215 5688



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

QUEM ANDA LENDO MINHA TESE SOBRE CRISE?


TROQUE SEIS POR UMA DÚZIA: COMPRE E LEIA MEU LIVRO SOBRE CRISE

Este blog foi retomado no primeiro semestre de 2012 por uma razão pertinente: a leitura de minha tese de doutorado no programa de pós-graduação em filosofia, da Universidade Federal de Uberlândia. Pareceu-nos esta uma boa oportunidade para retomar em consideração o tema crise e aquela tentativa de dar-lhe um tratamento filosófico e capaz de alguma atualização. A tese fora defendida em 2000, na UFMG, e publicada quatro anos depois, pela editora da PUCRS.

Depois do fim do semestre letivo, gostaríamos ainda de publicar algumas notas sobre a referida obra, mesmo que os alunos matriculados naquela disciplina não se sintam mais interessados na continuidade de uma conversa que, de fato, vai durar mais que os compromissos acadêmicos.

Basicamente, de acordo com o que notei durante a exposição e o eventual debate do livro, parece-nos oportuno fornecer referências de algumas obras publicadas depois do ano 2000 – ou desconhecidas por nós – que nos dão razão, bem como gostaríamos de qualificar e justificar as críticas feitas na obra às idéias de Habermas.

Habermas levou trinta anos para escrever um novo prefácio para sua tese, sobre esfera pública (1962) – e já estava na 17ª edição. Ao contrário dele, vamos nos antecipar – mesmo sem havermos esgotado nossa primeira edição. Além de outras diferenças incomensuráveis e sem querer correr parelha com nosso “objeto” de estudo, verdade é que podemos tirar proveito desse novo tipo de jornalismo, o blog.

Nesta data, exatos 12 anos após a tumultuada defesa da tese em Belo Horizonte, tomamos a liberdade de reproduzir aqui um elogio a nosso livro sobre teorias da crise, que vale por mil orelhas laudatórias que poderiam ter sido encomendadas por uma editora comercial. Não foi o caso; trata-se de uma espontânea avaliação de um querido e reconhecido filósofo brasileiro, que perfaz cada vez mais também o caminho sereno de um guru, acima das disputas acadêmicas e dos interesses editoriais.

Creio que o Professor Oswaldo Giacóia Jr. não se importaria de ver reproduzida aqui, neste blog, sua opinião sobre minha tese, da qual foi um ilustre argüidor. Em maio deste ano, durante um evento de filosofia da religião, organizado por um grupo de estudos da UnB, encontrei-me com ele, antes de sua conferência. Pedi licença ao grupo que se formara em torno dele, para cumprimentá-lo e, na verdade, cuidei de me apresentar, pois minha aparência poderia enganá-lo depois de doze anos e porque sei que muita gente o cerca com convites para novas bancas e conferências em todas suas aparições, sobretudo fora da Unicamp.

Logo atualizamos nossos respectivos arquivos de imagens e até nos lembramos um pouco depois de nosso encontro na Alemanha, em 1993, quando visitamos juntos, com as famílias, o Museu do Sal, em Lüneburg – onde também estivemos reunidos para um jantar na casa de C. Türcke.


Nossa conversa poderia ter sido mais breve ou desandar em banalidades turísticas, mas, de imediato, Giacóia dirigiu-se aos filósofos que o circundavam – inclusive meu prezado “sósia” e compadre José Crisóstomo – e perguntou-lhes se eles conheciam minha tese. Eu acrescentei que ela havia sido publicada. Ele informou, então, que estava lendo minha tese em um curso seu na Unicamp; havia adotado minha tese em sua bibliografia e voltara a ver nela importantes contribuições.

Eu, de bobeira e um pouco assustado com a inesperada cena, quis derrubar minha própria criação, ao tentar lembrar antes as circunstâncias atrapalhadas de minha ida a BH, mas Giacoia cortou rente minha tentação para o anedótico e voltou a dizer que estava se referindo ao conteúdo de minha tese e a nada mais. E voltou a citar questões e posicionamentos epistemológicos, que não cabem aqui, neste blog.


Promoção: vamos esgotar a primeira edição.
(Nas boas livrarias e nos sebos da hora)

Foi hora, então, para que eu mesmo dissesse algo relevante e em apoio ao valiosíssimo elogio do ilustre mestre. E referendei algo sobre minha pretensão de realizar uma abordagem grandiloqüente e caleidoscópica para a crise e as teorias críticas da crise. E nisso Giacoia também se lembrou de uma questão sobre minha abordagem “sinfônica” e talvez dodecafônica, com o risco de desafinar. O resultado foi harmônico, garante Giacóia.

Enfim, caros leitores do blog, foi isso que aconteceu: o Prof. Oswaldo Giacóia contou a um grupo de filósofos mais jovens que estava lendo minha tese em sua sala de aula na Unicamp. Se me estendi além da média de um post, foi para circunstanciar um pouco mais essa notícia, que trago sem constrangimento e sem esnobismo e que engrandece meu livro, na mesma medida em que eu fora prestigiado pela argüição de Giacóia – ao lado dos outros três docentes, a quem sou igualmente e para sempre grato, bem como a meu dedicado orientador Rodrigo Duarte.


Z!

Esta notícia é valiosa, pelo prestígio que pode conferir ao livro, doze anos depois. E talvez não seja apenas uma coincidência que eu mesmo tenha arranjado na mesma época um público qualificado para reler minha tese, os alunos da pós-graduação em filosofia, na UFU. É hora de falar de crise, nessa afinação filosófica.

Ou seja, o livro não vai custar mais caro por causa disso, mas é aos doze anos que uma garrafa de Scotch merece o “black label”. E creio que a editora da PUCRS também gostaria de esgotar sua tiragem da primeira edição. O autor tem interesse em divulgar sua obra e isso implica em anunciar e vender o livro Crítica e teorias da crise. Teremos inúmeras “edições” da velha crise. E talvez uma nova edição de meu livro, sem resolver crise específica alguma, ajude a compreender principalmente isso: crise e progresso vão continuar sua peleja dialética neste mundo sublunar. Não tem jeito: weitergehen, tipo Juanito Caminador.

BLACK LABEL EDITION
coming soon


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

AGÁ DE HABERMAS E DE HADDAD

HORÁRIO RESERVADO PARA A PROPAGANDA FILOSÓFICA GRATUITA


Antes que algum aluno ou colega me pergunte se eu vi na Folha, lá vai: sim, li a página inteira sobre a formação acadêmica de Haddad. Volta e meia ouvia que ele tinha estudado filosofia. Agora o resumo do histórico escolar de nosso recente ministro da Educação: Haddad graduou-se em direito, fez mestrado em economia e... doutorado em filosofia. Leva vantagem sobre muitos conhecidos da filosofia que gostariam de estudar economia. Habermas, inclusive - mas admitiu isso quando já era tarde. Eu jamais pensei em estudar economia. Ou quis isso tanto quanto queria ser arquiteto ou antropólogo. Pouco.

E aí revelou a Folha, publicada na capital onde Haddad quer ser prefeito, que durante o doutorado o aluno provocou celeuma na USP, ao criticar J. A. G., o conselheiro de FHC. Uma frase de efeito, sobre as boas perguntas e as péssimas respostas daquela pretensa estrela uspiana. Não vou entrar ainda no mérito dessas intrigas acadêmicas remotas, mas nem tanto.

Também significa pouco - exceto para o gênero jornalístico - que Haddad tenha criticado Habermas. Podemos atalhar o caminho, pois isso era de se esperar do orientador Paulo Arantes. Normal, para um hegeliano que não aceita a substituição da dialética pela reconstrução, que oscila entre conceitos binários. E para um marxista renitente, que ainda quer prestigiar a categoria trabalho.

Enfim, Haddad escreveu seu doutorado sob ponto de vista hegelo-marxista e, nisso, criticou Habermas. Ok. Não é motivo para não votar no homem. E criticou também o JAG. Aí, sim, mais um motivo para votar no homem.

No mais, se ele, paulista workaholic, quer valorizar o trabalho, então vamos votar no homem, para que ele trabalhe para melhorar uma cidade enorme e cheia de aposentados... Deixa o rapaz trabalhar!

Eu não voto em São Paulo, mas posso, de repente, contar com o saudável corporativismo do pequeno contingente de filósofos e também do minúsculo grupo de leitores de Habermas.

Na Alemanha, Habermas sempre esteve associado à Social-Democracia, mas... duvido muito que ele  votasse em Serra, que usa a sigla em SP.

Haddad prefeito, sim, mesmo sem a boa companhia de Erundina.

Este post não é apenas um apoio ao futuro prefeito Haddad. E nem é um mero exercício para desenferrujar este blog, meio travado por uma greve chata, como sempre são as brigas feias e desiguais.


terça-feira, 19 de junho de 2012

Rousseau, o Senhor das Armas?





Por razões ópticas e oftálmicas, este post teria que ser telegráfico.

Notas sobre algumas seções da XV Semana de Filosofia, na UFU, semana passada:

Uma tarde kantiana + uma tarde com Rousseau + uma boca de noite entre Platão e Vico.

Propus questões aos colegas da primeira, farei aqui (e na sala de aula) uma consideração sobre a releitura de Rousseau e comentei com o Prof. Rubens umas questões a serem desenvolvidas, sobretudo na encruzilhada de mito e normatividade, em Platão, com desdobramentos atuais. Prosa boa, iminente, antes que se evapore a Salinas.

Precisaria de mais tempo para situar minha pergunta aos kantianos, que retrocede da terceira crítica para a primeira, acatando sugestão já testada antes, com base em Deleuze e Körner (cf.). Do jeito que a intervenção foi percebida por parte da mesa, pareceu provocação. Voltaremos a isso, com tempo e dois olhos  e umas notas de caderno do tempo da tradução de Rohden e António Marques.
Oportuna representação da manhosa Razão como um todo,
pois não é só o gênio que coloca apenas as questões
que ele pode responder ( mas nunca revela seu segredinho).

A Prof.ª Helena Esser fez bem, sem sair de seu afinado registro, ao mencionar o exemplo negativo dos políticos e bicheiros da Unidade da Federação onde ela trabalha, GO. Na boa tradição hobbesiana, Rousseau também reconhecia que “a cidadania tem que ser trabalhada” para moldar “esse animal estúpido e limitado” – e atordoado entre papéis eventualmente conflitantes de cidadão & súdito.

Aqui vemos o último Habermas muito perto de Rousseau (e a léguas de Marx e Engels, que torciam pelo fim do Estado): “prolongar a vida do Estado no tempo que for possível”, teria dito Rousseau. E hoje investir naquilo que Habermas chama de Formação política da vontade – dentre as novas atribuições do Estado democrático de direito, discursivamente fundamentado.

O "Jardim dos Sonhos" é obra de outro Rousseau, o Henri (1844-1910),
mas está aqui por ser um achado "providencial".

Outro dia, o bicheiro Cachoeira, suspeito de diversas contravenções e crimes contra o patrimônio público, em rara declaração ilustrou sua confusão entre direitos e deveres, ao dizer que “a Constituição manda que ele fique calado”, ao lado da triste figura de seu advogado e ex-ministro da Justiça. Ora, no máximo a Constituição faculta-lhe o direito de não se pronunciar fora de hora, para não atrapalhar a tramitação. Na verdade, o bicheiro – esperto, aliás, no submundo das maracutaias – vive à margem do Estado ou queria manter aí  uma republiqueta fora da lei, onde tocava sua pequena guerra subterrânea.

De afogadilho, não caberia aqui uma receita popperiana, deveras simpática: a principal missão da política é proteger a sociedade e o Estado contra os políticos (limitar seus ataques, calibrar nosso prejuízo). Mas, muitas vezes, o minimalismo é providencial, ao tirar do bom resto um bom recomeço.


De Bom Selvagem a Senhor da Guerra?

Um Nicholas Cage feito de cartuchos,
no cartaz do filme "O Senhor das Armas"


Por fim, a guerra. Pergunto a todos e em especial ao Arcivaldo, que estuda Rousseau: Será que alguns editores querem fazer dele agora um ideólogo da guerra? A suspeita é maior quando ouço que uma tradutora norte-americana quis realinhar manuscritos recém-descobertos de Rousseau e por em destaque a noção de Direito à Guerra (ou Direito de Guerra). Caberia criticar a mania de certas “ciências do Espírito”, que sempre se arriscam em releituras, na onda da história que sempre precisaria ser reescrita. Se Adão e Eva tiveram três filhos (e não dois), teríamos que reescrever toda a Bíblia? A hermenêutica não se submete calada à exegese, segundo entendem alguns veteranos.


Certa vez, em uma conferência (de José N. Heck, talvez) ouvi e gostei dessa demarcação: as melhores teorias políticas são aquelas que partem do pressuposto de que o homem é mau. E havia três exemplos de peso para isso: Maquiavel, Hobbes e Carl Schmitt. Agora, depois dessa mesa-redonda, na bela Casa de Cultura, quinta-feira passada, cabe perguntar: será que Rousseau será a peça que faltava para compor a cavalgada apocalíptica?
 

sábado, 2 de junho de 2012

M. Teló nas paradas do Welfare State

M. Teló. Como diria o saudoso Paul Feyerabend, tudo vale - o que não tem nada a ver com tamanho de alma. 

Preferível dizer vale tudo, no sentido novelístico juramentado, num visse? 


Na Alemanha, esse sucesso global tinha outro nome:
"A QUALQUER PREÇO"


M. Teló. Para atrair leitores a um blog de filosofia numa sexta-feira à noite, apela-se ao golpe baixo da pegadinha. O título vem com esse "M. Teló" e isso só pode ser artifício. E é.


Vale tudo para ter audíência, menos morder orelha.




Se HP é uma impressora, antes disso, JH é uma máquina de fazer texto, um caso raro de sucesso - Habermas & Co. - uma holding, um dot.com, pois enquanto você vai com o milho de seu livrinho, ele já vem de volta com o fubá de seus dez volumes de kleine politische Schrift e mais uma ponta em uma Festschrift, pois hoje é sexta-feira - e vai rolar a Fest.

Só moendo, galera! UHU!
(This is the party next door - saturday night already.)




J. Habermas é um liquidificador de autores, triturando-os com sua "reconstrução" esperta. Ok, periferia! Mas diga aí, gente fina, quantos brasileiros ele citou? Dois ou três. O Mangabeira Unger, com aquela barba escrota e o sotaque de gringo. E o Emmanuel Carneiro Leão – a dupla de animais na mesma cadeira da ABL (golpe baixo do Estanislaw Ponte Preta dizer isso, gente.) E o terceiro? Bem, vamos aguardar um pouco, até que JH aprenda a ler português ou...

Pois só faltava essa agora: no livro Era das transições (Tempo Brasileiro, 2003), Habermas cita um certo M. Teló. Na verdade consta TELÓ, M.




Sucesso na Alemanha? Claro. Depois de Blumenau, daí...


Mas não vamos manter o suspense. Não, pois é sacanagem e vai contra a boa tradição acadêmica. Ninguém aqui quer piorar a imagem desses filósofos que mantém blogs. Deviam estar fazendo exegese de algum texto raro em língua morta! Com os olhos remelentos, na madrugada, acrescentaria Montaigne. (E aqui vai um alô para o sósia Crisóstomo: aquele abraço, à moda de Gil...)






Pois é isso: Habermas cita um certo Mário Teló, que pode, sim, ser o tio do cantor - ou o nonno - da versão pegajosa de Garota de Ipanema - mais para downgrade que para upload.




Teló não cogita traduzir para o alemão o hit do carnaval axé-sertanejo universitário 2012
(de terno, ficou meio parecido com David Bowie - grande artista caído do céu)


O capítulo em que aparece o Teló tem por título a ainda atualíssima questão "Será que a Europa necessita de uma constituição?"


- Sim! (Ops... Era pra responder, professor? )






E, a bem da verdade, o Mário - qual Mário? - Teló formou dupla com Paul Mignette para escrever "Justice and solidarity", no ano 2000. São da Universidade de Bruxelas, onde o bicho pega nessa coisa toda de Europa e Eurozona, para que o continente não vire um cabaré de calango. (Mas cuidado com os direitos autorais: "Pega fogo, cabaré" é um hit de João Neto e Frederico, outra dupla, dentre cem mil.)


Pura especulação do mercado fonográfico:
juntar duas meias duplas e formar essa tal de "Mário e Paul"

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E chega de figurinha daqui em diante,
pois quem sacou a pegadinha, já parou de ler este post.
E parabéns aos curiosos, que seguem lendo.

 
Esse texto referido e anunciado ficará esperando umas duas semanas, mas antes, no Mestrado, acabamos de ler umas outras páginas de Habermas – sim ele de novo! – que foram originalmente uma conferência proferida no Parlamento Espanhol em 1983.



Um aluno do mestrado cometeu um feliz ato falho. Disse que tinha gostado daquele texto mais do que dos textos de Habermas, em geral. Well, retruquei com jeito, esse texto, lido em español, é de Habermas também. Lido com isso: o gaio engano, nada ledo. E talvez a explicação hermenêutica seja que, traduzido para o espanhol, Habermas soe melhor. Fica com mais jogo de cintura, para falar de novidades alvissareiras na sociedade e não só maraños ideológicos e interpretativos. Conferência é bom, pois não tem nota de rodapé. E não vale falar de banda, para os caras da mesa, tipo resmungando algo. Say it loud and clear.

O texto da conferência, em español, é o mais bonito já associado à labiríntica e cornucópica produção fono e gráfica de Habermas: “Sobre la pérdida de confianza en si misma de la razón ocidental”. Demais isso, inclusive essa inversão de nossos vizinhos de idioma, tipo democrácia y mercancía: pérdida. A vingança das proparoxítonas, muss man sagen.  

Mas o que aconteceu depois? Parece que a equipe de secretárias, copydesks e ghostwriters da editora Suhrkamp resolveram cortar as asinhas do entusiasmo socialista de Habermas (“...mas eu estava de férias, gente!” / Aber, nein!). E aí, a conferência, quando publicada, dois anos depois, veio com esse título, mais chocho: “A crise do Estado de bem-estar social e o esgotamento das energias utópicas”, na seção V – La nova impenetrabilidade (ou intransparência).



O tema de nossa disciplina no mestrado em filosofia é, agora, este: o welfare State. Depois de uma baita aula expositiva, sobre o Estado constitucional, que ruma para o Estado democrático de direito... discursivo, pauleira.



Os alunos ficam meio atônitos, quando o professor leva no dia da aula um jornal da véspera que trata disso: o Estado de bem-estar social. Assunto quente.



E, dois dias depois, um dos alunos repassa ao grupo um email com este outro artigo, sobre cortes. Pois é disso que se trata: os países capitalistas ocidentais andavam fazendo gracinhas com a massa – deram até uma bolsinha para os filhos de estrangeiros, pesquisadores visitantes lá na Zoropa – e depois começaram a cortar, a atrasar aposentadorias. Perdas de direitos, essas coisas.

Não se trata, na verdade, de adivinhar ou de mera coincidência; é que quando fazemos a crítica correta, na hora certa – em cima do lance – e com as ferramentas teóricas certas, dá nisso: convergência. Estamos juntos nisso, babe!



"E não me venham com superstições.
Fui claro, doçura?"

(Ai, se The Mechanic te pega!)



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Confiram mais este texto sobre Estado Previdenciário em crise. Deu na Folha:

http://www.vermelho.org.br/rn/noticia.php?id_secao=2&id_noticia=184862