Total de visualizações de página

terça-feira, 19 de junho de 2012

Rousseau, o Senhor das Armas?





Por razões ópticas e oftálmicas, este post teria que ser telegráfico.

Notas sobre algumas seções da XV Semana de Filosofia, na UFU, semana passada:

Uma tarde kantiana + uma tarde com Rousseau + uma boca de noite entre Platão e Vico.

Propus questões aos colegas da primeira, farei aqui (e na sala de aula) uma consideração sobre a releitura de Rousseau e comentei com o Prof. Rubens umas questões a serem desenvolvidas, sobretudo na encruzilhada de mito e normatividade, em Platão, com desdobramentos atuais. Prosa boa, iminente, antes que se evapore a Salinas.

Precisaria de mais tempo para situar minha pergunta aos kantianos, que retrocede da terceira crítica para a primeira, acatando sugestão já testada antes, com base em Deleuze e Körner (cf.). Do jeito que a intervenção foi percebida por parte da mesa, pareceu provocação. Voltaremos a isso, com tempo e dois olhos  e umas notas de caderno do tempo da tradução de Rohden e António Marques.
Oportuna representação da manhosa Razão como um todo,
pois não é só o gênio que coloca apenas as questões
que ele pode responder ( mas nunca revela seu segredinho).

A Prof.ª Helena Esser fez bem, sem sair de seu afinado registro, ao mencionar o exemplo negativo dos políticos e bicheiros da Unidade da Federação onde ela trabalha, GO. Na boa tradição hobbesiana, Rousseau também reconhecia que “a cidadania tem que ser trabalhada” para moldar “esse animal estúpido e limitado” – e atordoado entre papéis eventualmente conflitantes de cidadão & súdito.

Aqui vemos o último Habermas muito perto de Rousseau (e a léguas de Marx e Engels, que torciam pelo fim do Estado): “prolongar a vida do Estado no tempo que for possível”, teria dito Rousseau. E hoje investir naquilo que Habermas chama de Formação política da vontade – dentre as novas atribuições do Estado democrático de direito, discursivamente fundamentado.

O "Jardim dos Sonhos" é obra de outro Rousseau, o Henri (1844-1910),
mas está aqui por ser um achado "providencial".

Outro dia, o bicheiro Cachoeira, suspeito de diversas contravenções e crimes contra o patrimônio público, em rara declaração ilustrou sua confusão entre direitos e deveres, ao dizer que “a Constituição manda que ele fique calado”, ao lado da triste figura de seu advogado e ex-ministro da Justiça. Ora, no máximo a Constituição faculta-lhe o direito de não se pronunciar fora de hora, para não atrapalhar a tramitação. Na verdade, o bicheiro – esperto, aliás, no submundo das maracutaias – vive à margem do Estado ou queria manter aí  uma republiqueta fora da lei, onde tocava sua pequena guerra subterrânea.

De afogadilho, não caberia aqui uma receita popperiana, deveras simpática: a principal missão da política é proteger a sociedade e o Estado contra os políticos (limitar seus ataques, calibrar nosso prejuízo). Mas, muitas vezes, o minimalismo é providencial, ao tirar do bom resto um bom recomeço.


De Bom Selvagem a Senhor da Guerra?

Um Nicholas Cage feito de cartuchos,
no cartaz do filme "O Senhor das Armas"


Por fim, a guerra. Pergunto a todos e em especial ao Arcivaldo, que estuda Rousseau: Será que alguns editores querem fazer dele agora um ideólogo da guerra? A suspeita é maior quando ouço que uma tradutora norte-americana quis realinhar manuscritos recém-descobertos de Rousseau e por em destaque a noção de Direito à Guerra (ou Direito de Guerra). Caberia criticar a mania de certas “ciências do Espírito”, que sempre se arriscam em releituras, na onda da história que sempre precisaria ser reescrita. Se Adão e Eva tiveram três filhos (e não dois), teríamos que reescrever toda a Bíblia? A hermenêutica não se submete calada à exegese, segundo entendem alguns veteranos.


Certa vez, em uma conferência (de José N. Heck, talvez) ouvi e gostei dessa demarcação: as melhores teorias políticas são aquelas que partem do pressuposto de que o homem é mau. E havia três exemplos de peso para isso: Maquiavel, Hobbes e Carl Schmitt. Agora, depois dessa mesa-redonda, na bela Casa de Cultura, quinta-feira passada, cabe perguntar: será que Rousseau será a peça que faltava para compor a cavalgada apocalíptica?