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sábado, 2 de junho de 2012

M. Teló nas paradas do Welfare State

M. Teló. Como diria o saudoso Paul Feyerabend, tudo vale - o que não tem nada a ver com tamanho de alma. 

Preferível dizer vale tudo, no sentido novelístico juramentado, num visse? 


Na Alemanha, esse sucesso global tinha outro nome:
"A QUALQUER PREÇO"


M. Teló. Para atrair leitores a um blog de filosofia numa sexta-feira à noite, apela-se ao golpe baixo da pegadinha. O título vem com esse "M. Teló" e isso só pode ser artifício. E é.


Vale tudo para ter audíência, menos morder orelha.




Se HP é uma impressora, antes disso, JH é uma máquina de fazer texto, um caso raro de sucesso - Habermas & Co. - uma holding, um dot.com, pois enquanto você vai com o milho de seu livrinho, ele já vem de volta com o fubá de seus dez volumes de kleine politische Schrift e mais uma ponta em uma Festschrift, pois hoje é sexta-feira - e vai rolar a Fest.

Só moendo, galera! UHU!
(This is the party next door - saturday night already.)




J. Habermas é um liquidificador de autores, triturando-os com sua "reconstrução" esperta. Ok, periferia! Mas diga aí, gente fina, quantos brasileiros ele citou? Dois ou três. O Mangabeira Unger, com aquela barba escrota e o sotaque de gringo. E o Emmanuel Carneiro Leão – a dupla de animais na mesma cadeira da ABL (golpe baixo do Estanislaw Ponte Preta dizer isso, gente.) E o terceiro? Bem, vamos aguardar um pouco, até que JH aprenda a ler português ou...

Pois só faltava essa agora: no livro Era das transições (Tempo Brasileiro, 2003), Habermas cita um certo M. Teló. Na verdade consta TELÓ, M.




Sucesso na Alemanha? Claro. Depois de Blumenau, daí...


Mas não vamos manter o suspense. Não, pois é sacanagem e vai contra a boa tradição acadêmica. Ninguém aqui quer piorar a imagem desses filósofos que mantém blogs. Deviam estar fazendo exegese de algum texto raro em língua morta! Com os olhos remelentos, na madrugada, acrescentaria Montaigne. (E aqui vai um alô para o sósia Crisóstomo: aquele abraço, à moda de Gil...)






Pois é isso: Habermas cita um certo Mário Teló, que pode, sim, ser o tio do cantor - ou o nonno - da versão pegajosa de Garota de Ipanema - mais para downgrade que para upload.




Teló não cogita traduzir para o alemão o hit do carnaval axé-sertanejo universitário 2012
(de terno, ficou meio parecido com David Bowie - grande artista caído do céu)


O capítulo em que aparece o Teló tem por título a ainda atualíssima questão "Será que a Europa necessita de uma constituição?"


- Sim! (Ops... Era pra responder, professor? )






E, a bem da verdade, o Mário - qual Mário? - Teló formou dupla com Paul Mignette para escrever "Justice and solidarity", no ano 2000. São da Universidade de Bruxelas, onde o bicho pega nessa coisa toda de Europa e Eurozona, para que o continente não vire um cabaré de calango. (Mas cuidado com os direitos autorais: "Pega fogo, cabaré" é um hit de João Neto e Frederico, outra dupla, dentre cem mil.)


Pura especulação do mercado fonográfico:
juntar duas meias duplas e formar essa tal de "Mário e Paul"

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E chega de figurinha daqui em diante,
pois quem sacou a pegadinha, já parou de ler este post.
E parabéns aos curiosos, que seguem lendo.

 
Esse texto referido e anunciado ficará esperando umas duas semanas, mas antes, no Mestrado, acabamos de ler umas outras páginas de Habermas – sim ele de novo! – que foram originalmente uma conferência proferida no Parlamento Espanhol em 1983.



Um aluno do mestrado cometeu um feliz ato falho. Disse que tinha gostado daquele texto mais do que dos textos de Habermas, em geral. Well, retruquei com jeito, esse texto, lido em español, é de Habermas também. Lido com isso: o gaio engano, nada ledo. E talvez a explicação hermenêutica seja que, traduzido para o espanhol, Habermas soe melhor. Fica com mais jogo de cintura, para falar de novidades alvissareiras na sociedade e não só maraños ideológicos e interpretativos. Conferência é bom, pois não tem nota de rodapé. E não vale falar de banda, para os caras da mesa, tipo resmungando algo. Say it loud and clear.

O texto da conferência, em español, é o mais bonito já associado à labiríntica e cornucópica produção fono e gráfica de Habermas: “Sobre la pérdida de confianza en si misma de la razón ocidental”. Demais isso, inclusive essa inversão de nossos vizinhos de idioma, tipo democrácia y mercancía: pérdida. A vingança das proparoxítonas, muss man sagen.  

Mas o que aconteceu depois? Parece que a equipe de secretárias, copydesks e ghostwriters da editora Suhrkamp resolveram cortar as asinhas do entusiasmo socialista de Habermas (“...mas eu estava de férias, gente!” / Aber, nein!). E aí, a conferência, quando publicada, dois anos depois, veio com esse título, mais chocho: “A crise do Estado de bem-estar social e o esgotamento das energias utópicas”, na seção V – La nova impenetrabilidade (ou intransparência).



O tema de nossa disciplina no mestrado em filosofia é, agora, este: o welfare State. Depois de uma baita aula expositiva, sobre o Estado constitucional, que ruma para o Estado democrático de direito... discursivo, pauleira.



Os alunos ficam meio atônitos, quando o professor leva no dia da aula um jornal da véspera que trata disso: o Estado de bem-estar social. Assunto quente.



E, dois dias depois, um dos alunos repassa ao grupo um email com este outro artigo, sobre cortes. Pois é disso que se trata: os países capitalistas ocidentais andavam fazendo gracinhas com a massa – deram até uma bolsinha para os filhos de estrangeiros, pesquisadores visitantes lá na Zoropa – e depois começaram a cortar, a atrasar aposentadorias. Perdas de direitos, essas coisas.

Não se trata, na verdade, de adivinhar ou de mera coincidência; é que quando fazemos a crítica correta, na hora certa – em cima do lance – e com as ferramentas teóricas certas, dá nisso: convergência. Estamos juntos nisso, babe!



"E não me venham com superstições.
Fui claro, doçura?"

(Ai, se The Mechanic te pega!)



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Confiram mais este texto sobre Estado Previdenciário em crise. Deu na Folha:

http://www.vermelho.org.br/rn/noticia.php?id_secao=2&id_noticia=184862