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sexta-feira, 28 de maio de 2010

O FILÓSOFO TROPEÇA E LULA RI


Capa Folha de São Paulo, 25 Outubro de 2003

A cena se repete. Diógenes Laércio teria gostado de vê-la, se ele tivesse um video cassette player com a tecla rewind. Diógenes conta que Tales de Mileto caiu em um poço, enquanto olhava as estrelas. Distraído ou concentrado, tanto faz, pois o estereótipo do filósofo voado é antigo. Vinte e cinco séculos, pelo menos. E uma jovem criada trácia riu de Tales, o que equivaleria a alguma frase preconceituosa do tipo “uma empregada doméstica vinda de Quixeramobim pôs-se a rir do cavalheiro que descia do bonde”.

Pois agora é o operário de Garanhuns que riu do filósofo alemão, que tropeçou no tapete vermelho de sua Majestade, o Príncipe das Astúrias. Esse mundo é uma bola. Quem haveria de imaginar esse inusitado encontro. Lula e Habermas, em 2003, receberam um prêmio da realeza espanhola. O riso de Lula foi discreto, automático. E ele não estava perto para estender o braço e evitar que o filósofo caísse. E nem parece que caiu. Só subindo pelas tabelas, aliás.

A foto, que está no site de assinantes da Folha de São Paulo, não permite ampliação, e nem dá para confirmar se Lula riu ou não riu. O importante foi esse “momento histórico”: um intelectual europeu influente e um operário-sindicalista bem sucedido na política que vai nos tirando do Terceiro Mundo. Reparem que o jornal quis também dar uma rasteira em Lula, “puxar seu tapete”, ao ressalvar no subtítulo da edição da véspera: Lula vai à Espanha receber prêmio que FHC já recebeu. Palmas pra FHC também, de boa. E um muxoxo para o editor da FSP.

Hoje, oito anos depois, os cabelos de ambos estão cada vez mais brancos e cada um soma mais e mais prêmios e homenagens. E é claro que este nosso blog contém uma homenagem constante a um desses senhores, que são referência para o século XXI. Nosso século começa navegando entre a social-democracia e a globalização de mercado. Entre a “guerra ao terror” e a devastação da natureza. E não sabemos o que vem por aí. Mas, como disse o assistente do delegado a Deckard, no filme Blade Runner, “quem é que sabe, afinal?”

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Não leve este autor muito a sério

Em 1989, durante a visita de Habermas ao Rio de Janeiro, o dito professor foi apresentado ao filósofo alemão, após uma de suas conferências. A apresentação coube ao Prof. Valls, que se referiu ao até então desconhecido como "o tradutor do livro de Raymond Geuss". Não esperem nenhuma revelação muito estrondosa. Habermas riu e disse, em tom de recomendação: "Não leve Geuss muito a sério". Trata-se do livro "Teoria Crítica: Habermas e a Escola de Frankfurt" (Editora Papirus, 1988), que dá uma abordagem analítica da obra de Habermas até 1980, em torno de três temas: Ideologia, interesse e teoria crítica. A verdade é que o livro foi levado a sério e é muito citado por aí. Está esgotado há muito tempo e muitos estudiosos pedem desesperadamente uma segunda edição, pois os sebos estão cobrando uma fortuna. A assessoria de imprensa do professor-tradutor comunica que ele topa a tarefa e até poderia preparar uma nova apresentação. Editoras, candidatem-se e entrem na fila.