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segunda-feira, 21 de junho de 2010

O reformista radical


ELE NÃO VESTIU ESSA CAMISA


Resposta de Habermas a uma pergunta de Álvaro Valls, no debate que se seguiu após uma das conferências do visitante alemão, no dia 5 de outubro de 1989, no Rio de Janeiro.


A pergunta não foi transcrita, mas é possível deduzi-la, pelo teor da resposta.

- Fui em 68 e ainda me considero um “reformista radical”¹. Marcuse e Fromm tinham uma autoconsciência revolucionária, mas não sei se meu amigo Herbert acreditava no que dizia. Sinto um desconforto ao ver os maoistas franceses de 68 como são hoje: neoliberais, nova direita, etc.

Ser intelectual no espaço público. Não podemos “criar sentido”, mas, sim, fazer a mediação com as ciências, ser cidadão normal, que interpreta a situação política. E podemos oferecer propostas que possam convencer o outro, mas o outro sempre poderá dizer “isso é bobagem”.

Ainda me sinto pertencendo à esquerda, com mais precauções. Deveríamos verificar a diferença de papéis entre intelectuais e políticos – os intelectuais de partido, organizadores de uma ação política, etc. Não quer dizer que a divisão de papéis implique que não se possa fazer todo o resto. Os partidos leninistas e maoistas mostraram como é fatal fazer o curto-circuito entre trabalho intelectual e público-político: tomar decisões, fazer algo arriscado – não deixar a decisão para alguns gurus.



¹Habermas já havia se posicionado sobre o “reformismo radical” (no seu caso, à esquerda da Social-democracia e contra o leninismo, etc.) em entrevista ao jornal Le Monde, dia 19 de outubro de 1980. {Filosofias, entrevistas do Le Monde. Ática, 1990]

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